segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A mulher do prefeito

Sempre moramos perto da casa do Prefeito e isso, no interior, era importante.
Mas o bairro era muito misturado e a filha da Mazé era uma figura muito conhecida por lá. Era bem novinha, devia ter uns vinte e poucos anos e parece que todo mundo comia, mas também não ganhava nada com isso nem com qualquer outra coisa. Era escurinha... tinha um rabão. Era a mais “fulera” do bairro.
Uma vez, correu o boato que a mulher do prefeito tava falando mal da filha da Mazé. Ora, que coisa impressionante aquela notícia... Como poderia? A mulher do prefeito era a mulher do prefeito... a filha da Mazé era só a filha da Mazé. Naquele dia eu achei que a neguinha ficou mais importante... Não sei se o boato era verdade... acho até que na casa do prefeito só que conhecia a filha da Mazé eram os empregados... mas enfim, ela ficou mais importante, afinal de contas, pra mulher do Prefeito se dar o trabalho de falar dela, não era mais qualquer uma.
Pois me lembrei disso hoje. Outro dia, a coitada da minha amiga veio me falar que a Edna tava falando mal de mim, sendo má, degradando minha imagem logo no meu meio profissional. Disse que tava falando horrores. Foi quando notei que eu achava a Edna importante... porque a primeira coisa que veio a cabeça foi: como pode?!? Eu sou só eu... A Edna é a Edna. Como pode perder tempo falando de mim?
Eu nunca tinha pensando como a Edna me era importante: ela era a mulher do Prefeito. A minha amiga não entendeu nada. Ficou até revoltada com a minha inércia...Eu não ia mesmo fazer nada? Ia não.
Mas passou pouco tempo até eu perder a admiração pela Edna. É que porque não tem nada a ver, mas por pura coincidência ( irônica, por certo), descobri que a Edna tem outra coisa em comum com a mulher do prefeito: ela é só a mulher de alguém. Mas pior: a mulher do prefeito nem tinha consciência disso. Se achava importante. A Edna tem. E isso é o inferno dela.
Hoje, lembrei disso, porque você me sugeriu que fizesse alguma coisa, sei lá o que, pra ficar “bem na fita” com a Edna. Pareceu sem qualquer importância. Acho que é porque, na verdade, eu já tinha percebido: a mulher do prefeito, a minha primeira mulher do prefeito, sou eu. A Edna, pobre Edna... sorte se achar quem fale qualquer coisa dela.

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